Diversos fatores podem originar mudanças na sociedade, como os que são apreesentados a seguir.
Fatores Geográficos
Determinados cataclismos naturais, como inundações, secas, ciclones, tufões, furacões, maremotos, terremotos, erupções vulcânicas, nevascas, pragas e outros, podem alterar, de forma transitória ou permanente, a organização ou a estrutura de uma comunidade.
Podem ocasionar migrações, extinção de comunidades, reconstrução ou fundação de novas cidades. 60 mil hectares, ocasionando a morte de aproximadamente meio milhão de indivíduos. As secas no Nordeste brasileiro têm originado graves problemas sociais, causando a perda de colheitas, a morte do gado e os deslocamentos populacíonais. Em 1970, no Paquistão (atual Bangladesh), um ciclone e um maremoto causaram mais de meio milhão de mortos, inundaram grandes extensões de terras, principalmente ilhas, e destruíram numerosas comunidades. Tufões e furacões têm ocorrido constantemente no Pacífico, costa leste dos Estados Unidos e no Japão, no Mar das Antilhas e outras localidades, destruindo vidas, propriedades, e desorganizando comunidades inteiras. Em muitas regiões da Terra, os terremotos têm levado a destruição a cidades inteiras, como ocorreu em Lisboa (40 mil mortos), em 1755; em São Francisco, Califómia, em 1906; e no Peru (50 mil mortos), em 1970. Erupções vulcânicas também têm ocasionado destruição de cidades, como, por exemplo, Pompéia e Herculano, na Itália, no ano 79 da nossa era. Uma destruidora tempestade de neve, que fustigou o nordeste e o meio-oeste dos Estados Unidos, em 1940, provocou quase 200 mortes e um elevado prejuízo material (6 milhões de dólares). Entre os anos de 1846 e 1854, uma praga devastou as plantações de batata na Irlanda, causando cerca de um milhão de mortes, por inanição, e ocasionando a emigração de um milhão e meio de pessoas, principalmente para os Estados Unidos. Todos esses acontecimentos, e muitos outros, provocaram mudanças de vida e deslocações que influíram em estruturas sociais.
Fatores Biológicos
Epidemias, elevação da taxa de mortalidade, rápido crescimento da população e a misci,genação de grupos étnicos dão origem a transformações sociais. Podem ocasionar desajustamentos e desequilíbrios nos mais diversos setores da sociedade, alterando a estrutura econômica, a organização do trabalho, a distribuição do poder e o modo de vida das populações.
Exemplos: iniciando-se em 1348, vinda da Ásia, a peste negra dizimou as populações da Europa, matando entre a metade e um terço dos habitantes da Itália, França, Inglaterra, Países Baixos e Alemanha. Na Europa medieval, essa diminuição drástica da população trouxe grandes alterações sociais: a escassez de trabalhadores elevou quase cinqüenta por cento o valor do trabalho alugado. Em conseqüência, certas medidas legais, repressivas, deram origem a revoltas de camponeses, que conquistaram, em meados do Século XV, uma grande parcela de emancipação. Desde então, os camponeses livres puderam negociar a terra, alterando significativamente os valores do mundo feudal.
O rápido crescimento da população, que os demógrafos denominada "explosão populacional ", tem causado uma série de desajustamentos e desequilíbrios em muitos países, trazendo modificações na organização do trabalho e nos processos econômicos, na estrutura da sociedade, alterando normas e valores e transformando comportamentos. Na India, a atitude perante a fertilidade, baseada, em grande parte, em valores religiosos, alterou-se diante da pressão populacional e da conseqüente escassez de recursos alimentares, permitindo um relativo sucesso no programa estatal de contenção da natalidade.
A miscigenação de grupos étnicos, de que o Brasil é o melhor exemplo, trouxe profundas modificações em sociedades coloniais, alterando costumes e valoJes e originando sociedades totalmente diferenciadas. Essas transformações podem ser observadas em países de intensa imigração, principalmente quando a procedência dos imigrantes é diversificada, como ocorreu no Canadá.
Fatores Sociais
Guerras, invasões e conquistas, assim como luta de classes e revoluções, alteram as estruturas sociais, modificam o status de nações, escravizam povos, transformam a vida e destroem culturas.
Exemplos: A Guerra da Secessão, nos Estados Unidos, eliminou, defmitiva. mente, o trabalho de cativos. Acentuou o prestígio dos industriais e dos negociantes, em detrimento dos detentores de grandes propriedades (plantatians), o que redundou em maiores possibilidades de enriquecimento e no incremento de empreendimentos econômicos arriscados e de grande vulto. Tudo isso contribuiu decisivamente para o "gigantismo norte-americano", a predominância política do alto empresariado, e o considerável aumento do consumo, com todas as suas conseqüências quanto aos costumes e mentalidade das populações.
As grandes invasões muçulmanas causaram um impacto cultural decisivo em regiões que circundam o Mediterrâneo ou dele estão próximas.
A própria unidade de linguagem e religião, fortaleci da nos primeiros tempos pela unidade política e legislativa, facilítou fecundo intercâmbio de conhecimentos e técnicas, que acabou estendendo-se às nações cristãs da Europa e, através desta, repercutiu consideravelmente no movimento intelectual do mundo todo.
Entre os próprios árabes, essas invasões (em virtude de seu extraordinário êxíto) concorreram para extinguir o regionalismo e o particularismo político, existentes antes delas, e para diminuir a prática do nomadismo, relegada a minorias beduínas. A generalização de costumes, muítos dos quais transformados em leis, como a poligamia regulamentada, foi, também, um dos resu1tados da formação do imenso império islamita. Em populações não muçulmanas, mas submetidas por bastante tempo aos árabes, permaneceram traços marcantes da mentalidade desses últimos, tais como, entre outros, a vendetta e a justificação e exaltação do ciúme agressivo.
Do ponto de vista social, foram extremamente significativos os resultados das conquistas romanas na Europa Ocidental. Quando se verificaram as migrações em massa de povos do leste, grande parte da população do continente, principalmente na Gália e na Bretanha, havia adquirido a cultura greco-roma e se havia acostumado a viver de acordo com as leis ditadas por Roma.
Especialmente nas cidades, haviam sido abandonados os antigos costumes e adotados, espontaneamente, os que provinham de aculturação com os dos conquistadores. Mesmo as linguagens autóctones, como as gauleses e lusitanas, tinham desaparecido quase totalmente.
A própria expansão do cristianismo e a futura unidade e força da Igreja Católica não se teriam verificado, aliás, sem a unificação decorrente da formação do Império Romano. Os gregos eram pouco numerosos para promover, no mesmo grau, a helenização das sociedades por eles conquistadas, e sua contribuição estendeu-se, principalmente e enormemente, ao setor cultural. A cultura grega não dominou a maior parte do mundo somente através do Império Romano, mas também da decisiva influência que, sobre a intelectualidade árabe, tiveram os sábios das populações arábicas e africanas de Bizâncio, perdida para os muçulmanos.
As invasões germânicas com que se iniciou a Idade Média, além de terem ocasionado importantes aculturações, vieram permitir o estabelecimento duradouro de novas formas, já esboçadas, de relações econômico-sociais. O regime de servidão agrícola estava desenvolvendo-se, devido, em parte, à disseminação dos moinhos de água, os quais permitiam a dispensa de muitos escravos. E estes, com o desmoronamento definitivo das instituições imperais, foram substituídos pelos servos. Os conquistadores, por sua vez, adotaram, por força das circunstâncias e jogos de interesses, as relações e a autoridade do tipo feudal.
A Revolução Francesa firmou, afinal de contas, mutações que se vinham processando nas sociedades européias, consagrando, notadamente, os conceitos de igualdade e liberdade nas esferas jurídica e política. É de realçar, nesse movimento, a proclamação dos "direitos humanos", hoje quase universalmente aceita. Nova estrutura político-social, e mesmo moral, fundamentada nos hábitos, modos de pensar e interesses das classes burguesas, espalhou-se pelo mundo por todo o Século XIX e inícios do Século xx. Trouxe inclusive, através da colonização da África, um movimento no sentido de substituir os particularismos tribais por nacionalismos dirigidos no sentido do fortalecimento econômico e do progresso cultural das populações, mediante unificações políticas.
A ninguém é dado ignorar, por fim, a Revolução promovida na Rússia, pelos bolcheviques, fruto de esforço de pensadores radicalmente impressionados pelos desajustamentos e injustiças sociais.
Mesmo nos países em que não se estabeleceram "repúblicas populares", a Revolução Soviética contribuiu, indiretamente, para transformações de monta, especialmente nas nações cujos governos se proclamam "social-democratas".
Quanto à Primeira Guerra Mundial, seria oportuno lembrar o êxito do livro de Upton Sinclair, denominado O Fim do Mundo, que bem retrata a viscera! transformação verificada na vida das populações do Ocidente por esse conflito.
A Segunda Guerra Mundial, além de ceifar aproximadamente 40 milhões de vidas, alterou profundamente os modos de vida não só das nações beligerantes, mas também de quase toda a população mundial. Desapareceram países independentes, surgiram outros, desorganizou-se a economia mundial, deslocaram-se os centros de poder político, desenraizaram-se milhões de pessoas e suas conseqüências se fazem sentir até hoje.
Da Segunda Guerra Mundial decorreram, entre outros resultados, a expansão do nacionalismo asiático-africano, a que já aludimos, e a expansão dos métodos de planejamento político-social.
Fatores Culturais
Descobertas científicas. Alteram a mentalidade, abrem novas perspectivas, modificam atitudes básicas e transformam a sociedade pela aplicação dos conhecimentos científicos a todos os campos da vida social ..
Exemplos: a descoberta da penicilina e dos antibióticos em geral trouxe alterações no equilíbrio populacional do mundo, ocasionando a sua explosão com múltiplas conseqüências em todos os setores da organização social.
A tese de Copémico, do heliocentrismo planetário, modificou completamente as noções que até então eram universalmente aceitas sobre a importância da Terra no universo material.
Invenções técnicas. Muitos sociólogos consideram que as mudanças tecnológicas são os fatores básicos da mudança social. Isto é verdadeiro no sentido de que é difícil descobrir uma mudança tecnológica, de certa envergadura e significação, que não tivesse produzido alguma mudança social, entretanto, nem todas as mudanças sociais se originam de transformações tecnológicas.
Entre as inovações da técnica, que grandemente pesaram na evolução social, conta-se a invenção dos instrumentos metálicos, permitindo a agricultura em grande escala e o aparecimento de numerosas populações sedentárias. Já nos referimos à importância dos moinhos de água, para a substituição dos escravos pelos servos, e à instalação do regime medieval na Europa.
Sem a invenção da máquina a vapor, com seu mecanismo de aproveitamento da pressão para o movimento rotativo, não teria sido possível nem a Revolução Industrial, nem a decorrente assim' chamada "sociedade de consumo" e nem, provavelmente, os movimentos de grande repercussão, visando à socialização das indústrias.
O telégrafo, o telefone, o rádio e a televisão vieram facilitar as comunicações entre os homens dos mais distantes lugares. Com essa "Revolução da Comunicação", a humanidade tende a conhecer-se melhor a si própria. O mundo, aliás, vai praticamente "se tomando menor" com as facilidades de transporte, invenção e aperfeiçoamento do automóvel, foguetes propulsores de aviões e mísseis diversos, trens expressos etc. Essas e muitas outras conquistas da técnica não podem deixar de provocar grandes e contínuas mudanças nas relações entre os homens.
Desenvolvimentos de aspectos intelectuais. Englobamos aqui, como fatores que originam ou propiciam a mudança social, as transformações ocorridas nas idéias e valores, o desenvolvimento da filosofia, a difusão de religiões e ideologias.
Constituiria pleonasmo declarar que o aparecimento de novas idéias e de novos critérios de valor intelectual e moral pode ocasionar profundas al terações sociais.
Idéias que vêm corresponder a anseios difundidos ou que apontam soluções desejadas para os problemas sociais têm sempre bastante repercussão. Assim, a diretriz da "não-violência", propagada, em lugares e circunstâncias bem diferentes, por Gandhi e luther King, impressionou milhões de pessoas.
A propaganda feminista, a partir do século passado, redundou em participação muito maior das mulheres em profissões liberais, no ensino superior, em cargos administrativos públicos ou empresariais e também na política.
Ninguém ignora o quanto concorreu para a abolição do trabalho escravo, nos Estados Unidos, o livro cujo título em português é A Cabana do Pai Tomás. E, que dizer do papel de Castro Alves na campanha antiescravagista brasileira? Seria necessário lembrar a contribuição de Voltaire, Rousseau, Montesquieu e outros na Revolução Francesa? E de Máximo Gorki, Dostoiéwsky, Tolstói e outros na Revolução Russa?
Quanto aos líderes religiosos, são patentes e de todos conhecidas as mudanças que provocaram na mentalidade de populações e nas revoluções sociais. Max Weber, em boa hora, indicou as conexões existentes entre os surtos do protestantismo e do capitalismo, em meados da Idade Moderna. Acredita-se que a posição de Calvino ante o comércio e sua noção a respeito dos que são bem sucedidos na vida muito concorreram para a prosperidade de indivíduos e populações na Escócia, Inglaterra e nos Estados Unidos.
As filosofias agem comumente sobre a realidade social e frequentemente são amoldadas para favorecer o conservantismo. Adquirem, entretanto, considerável força quando se apresentam sob forma de ideologias revolucionárias, que parecem atender às insatisfações de muitas pessoas, e quando as circunstâncias históricas favorecem a transformação das respectivas idéias em realidades político-sociais. Assim, Hegel defendeu a tese da transformação contínua das coisas e instituições; por terem dado às diretrizes hegelianas um conteúdo político e de reivindicação, Marx e Engles prepararam a Revolução Russa.
Explicações semelhantes cabem no surto do nazismo, anarquismo etc., assim como nos movimentos nacionalistas. Ao falar da influência de posições filosóficas, morais e religiosas sobre os comportamentos sociais, dificilmente se poderia citar melhor exemplo do que o Novo Testamento.
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