Perspectiva financeira: como os acionistas vêem a empresa?



Os indicadores de desempenho financeiro mostram se a implementação e a execução da estratégia da empresa estão con­tribuindo para a melhoria dos resultados. As metas financeiras típicas se relacionam com a rentabilidade, o crescimento e o valor para os acionistas.

A ECI expressou em termos simples suas metas financeiras: sobreviver, vencer e prosperar. A sobre- vivência era mensurada pelo fluxo de caixa; o sucesso, pelo cres­cimento trimestral das vendas e pelo lucro operacional trimes­tral por divisão; e a prosperidade, pelo aumento da participação de mercado por segmento e pelo retorno sobre o patrimônio líquido.

Mas em face do atual ambiente de negócios, será que os ge­rentes seniores devem analisar a empresa sob a perspectiva fi­nanceira? Será que é de fato necessário que estejam atentos aos indicadores financeiros de curto prazo, como vendas trimestrais e lucro operacional trimestral? Os indicadores financeiros têm sido muito criticados em razão de suas notórias inadequações, do foco retrospectivo e da incapacidade de refletir as medidas em andamento para a criação de valor. A análise de valor para os acionistas (shareholders value analysis - SVA), que prevê os fluxos de caixa futuros e os desconta para uma estimativa gros­seira de valor corrente, é uma tentativa de tornar a análise fi­nanceira mais prospectiva. Mas o SVA ainda se baseia no fluxo de caixa e não nas atividades e processos que impulsionam o fluxo de caixa.

Outros críticos vão muito mais longe na condenação dos in­dicadores financeiros. Para eles, as condições competitivas mu­daram e os indicadores financeiros tradicionais não melhoram a satisfação dos clientes, a qualidade, a duração dos ciclos e a motivação dos empregados. Entendem que os indicadores fi­nanceiros são o resultado de ações operacionais e que o sucesso financeiro é a conseqüência lógica do bom desempenho em re­lação aos fundamentos. Em outras palavras, as empresas não de­vem navegar sob a orientação dos indicadores financeiros. Se­gundo esse argumento, os números financeiros cuidam de si pró­prios quando se efetuam melhorias fundamentais nas operações.

As afirmações sobre a desnecessidade dos indicadores finan­ceiros são incorretas por pelo menos dois motivos. Os sistemas de controle financeiro bem desenvolvidos são de fato capazes de promover, ao invés de inibir, o programa de gestão da quali­dade total da organização.Todavia, ainda mais importante é o fato de que as alegadas co­nexões entre a melhoria do desempenho operacional e o suces­so financeiro são efetivamente muito tênues e incertas. Demons­tremos o ponto, em vez de sustentá-Io com argumentos.

Durante o período de três anos entre 1987 e 1990, uma empresa de produtos eletrônicos listada na NYSE efetuou melhorias substanciais em termos de qualidade e de pontualida­de nas entregas. O índice de defeitos em produtos expedidos caiu de 500 para 50 partes por milhão, a pontualidade na entrega melhorou de 70% para 96% e o rendimento saltou de 26% para 51 %. Será que esses avanços formidáveis na qualidade, na produtividade e nos serviços aos clientes proporcionaram bene­fícios substanciais para a empresa? Infelizmente não. Durante o mesmo período de três anos, os resultados financeiros da em­presa mostraram poucas melhorias e o preço das ações caiu para um terço do valor em julho de 1987. Os aprimoramentos ex­pressivos na área de fabricação não se refletiram no aumento da rentabilidade. A morosidade no lançamento de novos produtos e a incapacidade de expandir o marketing para novos clientes, talvez mais exigentes, impediu que a empresa auferisse os bene­fícios de suas realizações na área de fabricação. As melhorias operacionais foram reais, mas a empresa não as converteu em resultados financeiros.

A disparidade entre o desempenho operacional empolgante e indicadores financeiros decepcionantes cria frustração entre os executivos seniores. Tal desapontamento geralmente recai sobre os inomináveis analistas de Wall Street, que alegadamente não ultrapassam os espasmos trimestrais do desempenho finan­ceiro, para captar o valor subjacente de longo prazo que esses executivos sinceramente acreditam estar criando em suas orga­nizações. Mas a verdade nua e crua é que, se a melhoria no desempenho não se manifesta nos resultados financeiros, os exe­cutivos devem reexaminar os pressupostos básicos da estratégia e da missão da empresa. Nem todas as estratégias de longo pra­zo são estratégias lucrativas.

Os indicadores de satisfação dos clientes, de desempenho interno do negócio e de inovação e melhoria decorrem da visão de mundo própria da empresa e de suas perspectivas sobre os fatores críticos do sucesso. Até mesmo um excelente conjunto de indicadores do balanced scorecard não garante uma estraté­gia vitoriosa. Tais indicadores apenas traduzem a estratégia da empresa em objetivos específicos mensuráveis. A não-conversão do melhor desempenho operacional, conforme evidenciado pelo balanced scorecard, em melhor desempenho financeiro deve re­meter os executivos de volta à mesa de reuniões para repensar a estratégia da empresa ou reformular os planos de implementação.

A título de exemplo, os indicadores financeiros às vezes são decepcionantes porque a empresa não complementa as melhorias operacionais com outra rodada de iniciativas. Os aprimoramen­tos na qualidade e na duração dos ciclos às vezes redundam em excesso de capacidade. Para que as melhorias operacionais se re­flitam na última linha do resultado, os gerentes devem aproveitar ou descartar o excesso de capacidade, utilizando-o para o aumen­to da receita ou eliminando-o com a redução das despesas.

À medida que as empresas melhoram a qualidade e o tempo de resposta, elas excluem a necessidade de inspecionar, identifi­car e reprocessar produtos fora de conformidade ou de repro­gramar e diligenciar pedidos em atraso. A supressão dessas tare­fas significa que alguns de seus executores se tornarão redundan­tes. Compreende-se que as empresas relutem em demitir empre­gados, sobretudo quando os próprios empregados talvez tenham sido a fonte das idéias que resultaram na melhoria da qualidade e na redução da duração dos ciclos. As demissões são uma recom­pensa funesta pelas conquistas do passado e em geral deterioram o moral do pessoal remanescente, dificultando novas conquistas. Mas as empresas não auferirão os benefícios das melhorias operacionais até o preenchimento do novo excesso de capacidade dos empregados e instalações ou a auto-imposição das dores do downsizing para a eliminação da recém-criada ociosidade.

O balanced scorecard coloca no centro a estratégia e não os controles.

Se os executivos compreendessem em profundidade as con­seqüências dos programas de melhoria da qualidade e de redu­ção dos ciclos, talvez fossem mais agressivos no aproveitamento da capacidade ociosa resultante. Todavia, para aproveitar esse excesso de capacidade, as empresas precisam expandir as ven­das para os clientes existentes, comercializar os produtos exis­tentes em mercados inteiramente novos (que se tornaram aces­síveis por causa da melhoria da qualidade e do desempenho na entrega) e aumentar o fluxo de novos produtos no mercado. Essas ações são capazes de gerar novas receitas com aumentos apenas modestos nas despesas operacionais. Se as atividades de marketing, vendas e P&D não gerarem o necessário aumento de volume, as melhorias operacionais degenerarão em excesso de capacidade, redundância e recursos inaproveitados. Os relató­rios financeiros periódicos lembram aos executivos que as melhorias na qualidade, nos prazos de resposta, na produtivida­de e nos novos produtos beneficiam a empresa apenas quando se convertem em aumento das vendas e da participação de mer­cado, em redução das despesas operacionais ou na aceleração do giro dos ativos.

Idealmente, as empresas devem especificar a maneira como os aprimoramentos na qualidade, na duração dos ciclos, no lead­time, na entrega e no lançamento de novos produtos induzirão ao aumento da participação de mercado, das margens operacio­nais e do giro dos ativos ou à redução das despesas operacionais. O desafio é aprender a efetuar essas conexões explícitas entre operações e finanças. A exploração dessa dinâmica complexa provavelmente exigirá exercícios de simulação e de modelagem de custos.

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