Como fazer a disciplina alimentar da criança



Em relação à disciplina alimentar, deve-se entender os motivos que levam uma pessoa a comer. O primeiro é a ne­cessidade de suprir as carências do corpo que se manifes­tam pela fome normal; os demais, que se manifestam por desequilíbrios são: gula; insatisfação em relação a si mesma ou a algo; compensação de algo que não alcançou, como um desejo; ou por fuga, quando em qualquer dificuldade ou frus­tração se refugia na comida.

Tudo inicia na primeira infância, quando os pais não sabem como proceder na alimentação dos filhos. Em primeiro lugar, é preciso saber que a ingestão de alimentos, em crianças que não sofrem interferência em suas necessidades fisiológicas, não depende da vontade; é um ato instintivo, como a função de respirar. E o fato de um grande número de pais acharem que seus filhos comem pouco, e procuram resolver o "problema", significa que eles estão in­terferindo num mecanismo situado no cérebro, constituído por dois centros antagônicos, reguladores de ingestão dos alimentos: o centro da fome e da saciedade.

Normalmente existe um equilíbrio entre eles: o centro da fome impele a ingestão de alimentos e o da saciedade impede que prossiga a alimentação quando as necessidades orgânicas se acham satisfeitas. Isso já foi comprovado em experiências de laboratórios: o jogo harmônico dos dois centros, resulta em que a cobaia aceite uma taxa de alimentos de acordo com suas necessidades nutritivas, o que mantém seu peso mais ou menos constante. E não é só isso: a capaci­dade instintiva de regulação é levada a tal grau que, se for diluído o alimento de modo que o volume permaneça o mesmo mas as calorias reduzidas a metade, a cobaia em ex­periência, come o dobro, preservando assim, a recepção nor­mal para ela. Inversamente, concentrando o alimento, re­duz-se a quantidade aceita.

Além disso, se a cobaia tiver que escolher entre diver­sos alimentos à sua disposição, ela escolherá o mais nutritivo ou aquele que necessita no momento. Entretanto, ao se extir­par cirurgicamente o centro da saciedade do cérebro do ani­mal, este passará a comer demasiadamente e sem controle e torna-se obeso, com todas as complicações deste estado.

Estes centros reguladores da alimentação já existem no ser humano desde o nascimento e, se bem disciplinados pe­los pais, tornam-se um elemento importante para a saúde da cnança.
Durante seu desenvolvimento, a criança passa por pe­ríodos variáveis de crescimento e de atividade.
No primeiro ano, o crescimento da criança praticamente triplica e isso exige uma alimentação maior, mas não exage­rada. A partir de um até os cinco anos de idade o crescimen­to é de apenas 25% ao ano, e isso diminui muito a necessi­dade de alimentos, o que mudará no período escolar e prin­cipalmente a partir dos sete anos. Aí a intensa atividade mus­cular justifica o aumento do apetite.

Algumas vezes, quando os pais oferecem soluções rá­pidas, para o desconforto do bebê, colocando-o para mamar, assim procedem por achar ser o correto, mas não é o certo para ele. É comum, pais oferecem comida como alívio à cri­ança, quando por vezes, outra coisa pode funcionar, como conversar ou cantar, mudar a posição no berço, às vezes segurá-la em seus braços, ou até mesmo acariciá-la suavemente. Se a comida é sempre a primeira solução, o bebê aprende, a partir da experiência repetida, que só o alimento vai resolver quando tiver qualquer situação desagradável. Isto na certa, vai alterar e descontrolar o mecanismo da fome e da ansiedade.

O choro da criança, que na maioria das vezes é inter­pretado como sendo de fome, poderá ter, na verdade, muitas .:nterpretações e outras definições. Às vezes, a mãe está dan­do para o filho o que ela não teve na infância ou em outra época, por causa de algum regime alimentar. Outras vezes, os pais inseguros estão oferecendo comida à criança, por não se acharem em condições de oferecer outra coisa. As­sim tentam compensar, dando comida.

A observação das crianças que rejeitam os alimentos, nos mostraram que, na maioria das vezes, este sintoma é fruto da ansiedade dos pais, especialmente da mãe, por se auto-responsabilizar não só por alimentar o filho, mas por todas as suas supostas "necessidades".

Muitos pais criam uma preocupação exagerada com a alimentação de seus filhos, não só quando bebês em que realmente precisam dos pais para que providenciem o aces­so à fonte de alimentos, o que é muito diferente de induzi-lo a se alimentar, mas muitas vezes procedendo assim, após esse período inicial e até quando adultos. Essa postura dos pais é negativa, pois pode ocorrer que em determinados dias por qualquer razão circunstancial, a criança coma menos, ou em uma refeição, simplesmente não queira comer. Isso deixará os pais alarmados, com receio de que fique subnu­trida, fraquinha e sujeita a doenças, e ansiosamente passam a induzir a criança a comer, às vezes usando de esforços em conjunto para isso. Em pouco tempo, a criança percebe esta intenção dos pais, e passa a usar a inapetência, como forma de chamar a atenção ou de obter regalias, tudo de acordo com o ambiente familiar. A partir dessa situação, os pais aumentam seus esforços para induzir a criança a se alimen­tar, e assim ela vai se tornando cada vez com mais poder de manipulá-los usando isso cada vez mais a seu favor.

Quando os pais, com segurança, são organizados ou disciplinados na alimentação do bebê, e percebem quais as reais necessidades do mesmo, facilitarão o seu desenvolvi­mento normal. Mais tarde, além de regular a quantidade de alimento, a criança também saberá escolher a qualidade, isto é, come­rá quanto e o que seu organismo necessitar. Um exemplo desta escolha instintiva é a ingestão de terra pela criança anêmica, fato muito comum em algumas regiões em que não existe uma assistência médica adequada. Por instinto, o or­ganismo descobre onde encontrar o ferro de que precisa para a sua manutenção.

Quando os pais não disciplinam a alimentação da cri­ança, mais tarde ela descobrirá que o comer é agradável aos pais e não a ela. Com isso, é que poderá usar o não comer para castigar os pais por suposta falta de atenção, ou por se achar abandonada pelo nascimento do irmãozinho, ou pelo fato dos pais trabalharem fora, ou mesmo só para ter aten­ção especial. A partir daí, muitos pais e principalmente as mães e até avós, passam a ser joguetes nas mãos da mesma, às vezes chegando ao ridículo de fazerem "aviõezinhos", "caminhõezinhos", "trenzinhos" e outros, para assim serem cada vez mais manipulados por ela. Alguns, chegam mesmo ao extremo negativo, de fazer ameaças ou promessas para que a criança se alimente.

O primeiro passo na disciplina alimentar é, logo de­pois do parto, seguir algumas orientações do pediatra e, mediante as características fisiológicas da criança, desco­brir a sua capacidade alimentar. O estômago do bebê se esvazia depois de certo tempo e, quando isto acontece, a fome se traduz por contrações gástricas dolorosas que só cessam com a chegada do alimento. Os horários dessas contrações gástrícas, variam de uma situaçao para outra, a média é de duas a quatro horas. Em casos raros, este intervalo é maior ou menor ou às vezes, irregular, como acontece sobretudo com o recém-nascido em fase de adaptação.

Nas ocasiões em que chora de fome, é que o bebê deve ser alimentado. Deste modo, a amamentação torna-se um ato natural, fator de equilíbrio físico e mental. Muitas vezes a mãe tem um horário de alimentar o filho, e acredita que deva ser rigorosamente seguido. Resultado: o bebê dorme tranqüilamente, mas chegou a hora, e então o seio ou a ma­madeira lhe é imposta à força. O que acontece é que, naque­le momento, ele precisa apenas dormir e não, comer. A ali­mentação, no lugar de ser agradável e satisfazer às necessi­dades nutritivas, surge como inoportuna, para tirar-lhe o repouso, a comodidade, tornando-se em vez de prazer, um sacrifício. Por outro lado, o bebê que pode realmente ter fome e ainda não estar na hora e não receber alimento, ficará frus­trado nas suas necessidades.

Muitas vezes, é preestabelecido o tempo de mamar. En­tretanto, os bebês não são iguais; uns são mais ativos, outros mais calmos e isto é que determina o tempo da mamada. O tempo de mamar e o volume da mamadeira depende de cada um. Se aceita muito ou pouco, não importa; sua vontade deve ser respeitada. Não existe nenhum risco, pois como vimos antes, a criança tem um mecanismo de auto-regulação, que a faz mamar apenas o necessário, rejeitando o excesso que lhe é imposto.

Assim, se torna importante uma disciplina alimentar, em primeiro lugar por parte dos pais e depois para a crian­ça. O que não pode acontecer é a rigidez na aplicação disci­plinar, e nem mesmo o outro extremo, em que os pais estão sempre, em cada situação, querendo alimentar a criança.
Quanto à alimentação noturna do bebê, ela deve acon­tecer principalmente nos primeiros meses. Neste período, lentamente vai ocorrendo uma modificação em que a neces­sidade do sono noturno vai aumentando e a necessidade de alimentação vai diminuindo.

A partir principalmente de um ano e meio de idade, os pais devem tomar muitas precauções para não permitir que os filhos usem, o não querer comer, para manipulá-Ios. Quan­do a criança recusar os alimentos é importante, em primeiro lugar, corrigir problemas ambientais se houver, como: falta de atenção e carinho normais; nascimento de um irmãozinho sem preparação; um relacionamento conturbado na família ou do casal; morte de um parente próximo; enfim todos os erros na educação ocorridos até o momento.
Caso a recusa aos alimentos persista, os pais não de­vem ficar ansiosos, pois é melhor que a criança fique algu­mas vezes sem comer do que permitir a manipulação por parte dela. Muitas mães, ao perceber a recusa do filho, ten­tam até mesmo, oferecer um outro alimento como substitu­to. É justamente aí que a mãe começa a perder o controle e se submeter aos caprichos infantis, confundindo gosto com sobrevivência.

Os principais pontos a serem observados para introdu­zir na vida da criança a disciplina alimentar são: não forçar nunca a criança a comer; não insistir para que coma de tudo, mas o necessário; não colocar ameaças ou gratificações para convencer a criança a comer; aceitar que a criança não quei­ra comer em uma determinada refeição, mas não permitir a mesma refeição noutro horário, que não o normal, estabele­cido pela família; não substituir uma refeição por outra; não distrair com atitudes como do "aviãozinho", "trenzinho", ou outros; evitar guloseimas durante o dia; estabelecer horári­os normais sem muita rigidez; deixar desde cedo que coma com as próprias mãos; quando possível, mas não com muita freqüência, preparar alimentos de acordo com o que ela mais gosta; enfim, evitar o uso de vitaminas, fortificantes e esti­mulantes do apetite, pois isso serve como excesso que pode prejudicar no futuro o equilíbrio orgânico.

Em casos de obesidade, sempre se deve levar como norma o seguinte: é imprescindível o acompanhamento médi­co, pois não é saudável qualquer outra forma de controle alimentar; a outra parte também importante é a participação familiar, pois fica difícil recusar um prato de macarrão, quan­do toda a família vai comer macarrão. A dieta de um mem­bro da família, deve ter a solidariedade dos demais; por últi­mo, trabalhar a auto-estima da pessoa para que proceda a dieta com prazer e não como uma obrigação.
O alimento deve representar, para a pessoa, uma fonte de saúde e prazer, e não uma válvula de escape para as ca­rências e desequilíbrios, pois tudo na vida deve ser discipli­nado e organizado.

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2 comentários :

Julia disse... [Responder comentário]

ótimo texto!

Elizeu Timóteo Pereira disse... [Responder comentário]

Olá Júlia!
Obrigado por comentar!
Fico contente que tenha gostado.

Abraço e volte sempre.

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