Modelos e conceitos: aprendizagem pela imitação



Durante a nossa vida desenvolvemos o aprendizado através de três fatores: os modelos, os conceitos e as convic­ções. A criança inicia o seu aprendizado pelos modelos. Em seguida, além de transformá-los em conceitos adquire no­vos e mais tarde transforma tudo em convicções que pode levar pela vida afora.

Os modelos chegam para a criança através dos exem­plos e de todas as informações que recebe através dos órgãos dos sentidos. Em seguida ocorre o processamento dessas in­formações, caracterizando os conceitos. É importante sali­entar que os modelos são predominantes na formação dos conceitos. No início da aprendizagem, a criança tem grande ten­dência a imitar o que percebe em seu ambiente familiar, es­colar e social em geral. Isso não é nenhuma novidade, mas o que ocorre é que pais e professores não observam essa regra.

Na primeira infância, fase em que o educador francês Jean Piaget chama de pré-operacional, a criança não tem ainda condições de assimilar valores abstratos como respeito, solidariedade, dever, obrigações, dedicação ao próximo, dis­ciplina pessoal e social, normas de conduta e igualdade. En­tretanto, ela aprende muito, observando as atitudes dos adultos em todos os lugares em que convive e principalmente, em casa e na escola. De nada adiantam discursos, se os exem­eS não forem compatíveis com os mesmos e sem discursos, mas com bons exemplos, se educa muito mais. Claro que não se pode deixar de lado o diálogo com a criança, mas e se fala deve estar de acordo com o que se faz, sendo e o diálogo deve ser um reforço para os exemplos.

A criança observa as pessoas a sua volta e com essa observação dá significado às coisas em seu interior. À medi­da que vai crescendo, os adultos lhe dão uma imagem não do que ela e eles são, mas também do mundo a sua volta.

Não existe uma pessoa totalmente coerente, mas cada adulto que desenvolver um relacionamento com as crian­ças e principalmente pais e professores, deve procurar ao máximo essa virtude em relação ao educando.

Muitas vezes a incoerência dos pais se caracteriza pelo fato de terem pontos de vista diferentes e manifestarem isso perante os filhos. Muitas vezes a incoerência se manifesta entre o casal por não chegarem a um acordo quanto ao com­portamento em relação ao filho. Isso, além do exemplo de discórdia, coloca o filho como causador da mesma.

As crianças aprendem mais pelo exemplo, pois elas têm a tendência a imitar. Elas agem pelo que percebem através dos sentidos. Elas assimilam a ação e os fatos. Observam, imitam e reproduzem palavras, gestos, comportamentos e atitudes dos adultos. Gabriel Tarde, psicólogo inglês, passou anos estudan­do o fenômeno da imitação e assim a define: "Imitação é o comportamento que o indivíduo assume quando observa a conduta de outro e trata de reproduzi-la". A imitação pode ser consciente ou inconsciente.

Na criança, a imitação de modelos é a tônica do seu aprendizado. As impressões penetram em sua mente como modelos e em seguida se transformam em comportamentos. Em uma época se deu tanta importância a esse fato que alguns estudiosos chegaram a afirmar que a pessoa era fruto do meio. Com o tempo se entendeu que este é um dos ele­mentos de aprendizado. Mas de muita importância.

A criança alcança o seu desenvolvimento pelas facul­dades humanas: a força, a inteligência, a linguagem, os va­lores e ao mesmo tempo a adaptação às condições do ambi­ente. A criança admira seus pais e professores e quer ser igual a eles. Quanto menor ela for, mais propensão terá para imitá­los. O objetivo é ser como as pessoas que admira. E assim aprendem os padrões de comportamento familiar e social. É nesse convívio social que a criança aprende e absorve a dis­ciplina e a organização para, num futuro próximo, tornar-se uma pessoa disciplinada e organizada.

Todas as pessoas que se propuserem a ajudar o desenvol­vimento humano devem partir do fato de que a mente da cri­ança absorve e se orienta de acordo com o ambiente. Por isso, devem tomar cuidados para oferecer a essa mente em forma­ção meios adequados para a sua construção. Por muitos anos as crianças foram consideradas como neutras e que nada entendiam. O fato de não entenderem não quer dizer que não tenham a compreensão dos fatos; isso nos mostra que os exemplos são mais marcantes do que as palavras.

Nos últimos anos a atenção da ciência fixou-se sobre o lado físico. A medicina e a higiene elaboraram um tratamento infantil meticuloso a fim de vencer a imensa mortalidade que antes prevalecia. Mas, exatamente porque se tratava de diminuir a mortalidade, este tratamento limitou-se apenas à saúde física. O campo da saúde psíquica ainda é ignorado pela maioria das pessoas. Mas os que ocupam com saúde psíquica, perceberam que o principal objetivo da idade infantil é a formação do indivíduo adequado ao tempo, ao seu ambiente e no estudo da natureza.

Considerando que o ser humano tem como base da sua formação os modelos, se compreenderá, facilmente, o quan­do é importante para a criança o papel do ambiente. Seu valor e sua importância são consideráveis, do mesmo modo como o são também os perigos que este pode apresentar. Daí o grande cuidado que se deve ter com relação ao ambiente que circunda a criança a fim de lhe facilitar a absorção do mesmo de forma saudável.

A criança em muitos aspectos, adapta-se serenamente ao ambiente, sem qualquer relutância, absorve-o até tornar seus os hábitos do meio em que vive. Diante desta fase do desenvolvimento, é preciso estar­mos atentos para fornecer aos pequenos, modelos bons, aos quais ela possa imitar.

Nesta fase a criança não tem a razão da diferença en­tre entendimento e imitação. Muitos estudiosos colocam que ela entende e depois imita. Nós particularmente prefe­rimos não formar essa seqüência pelo fato de existirem modelos inconscientes que independem do entendimento. A partir desses modelos, a criança desenvolve compor­tamentos e atitudes que o identificam de forma positiva ou negativa no ambiente em que vive.

Às vezes você está em local público e percebe uma cri­ança que mais parece um pequeno terremoto, um autêntico contraventor do código mínimo de civilidade.

Aos olhos dos mais severos, tantas alterações podem ser indesculpáveis. Mas, provavelmente a criança indisciplinada aprendeu com os adultos a desconsiderar os códigos básicos da boa convivência. Por conta da correria do cotidiano, pela falta de preparo, ou pela confusão de valores importantes, os grandes acabam fazendo um mau papel e dando péssimos exemplos, que se repetem entre as crianças. É muito importante que as normas de cordialidade e boa educação sejam praticadas pelos adultos em todos os ambientes.

Ensinar educação no convívio social é um dever de to­dos os adultos. Também cabe ao adulto ter cuidados em to­dos os seus relacionamentos, isso vale, principalmente para a convivência doméstica. As crianças estão permanentemen­te atentas a eventuais conflitos entre o discurso e a prática dos pais. Percebem, e muitas vezes apontam, o avanço sobre o sinal vermelho no trânsito, o estacionamento em fila du­pla diante da escola, a falta de respeito para com as pessoas, a indelicadeza com a doméstica ou com outros funcionári­os, etc. O acúmulo de pequenos desrespeitos no dia-a-dia acaba funcionando como um tipo de anestésico social que torna tudo permitido, encurtando a distância entre as pe­quenas e grandes contravenções.
Bons modos começam em casa. A criança habituada, desde pequena a ouvir e a responder "bom dia", quando se levanta, não terá dificuldades em fazer o mesmo, dentro e fora de casa, quando for maiorzinha. Do mesmo modo, no que se refere ao "obrigado" e o "por favor", quando se solici­ta algo.

O caminho mais curto para a criança aprender a res­peitar os outros e a si mesma, sem dúvida, é exercitar cada um desses princípios na convivência diária, em casa, na es­cola e em qualquer situação. Nesse exercício, o papel da fa­mília e dos professores é fundamental. Expressões como: bom dia, por favor, com licença e obrigado, são apenas pequenas manifestações de respeito ao código da boa convivência. Elas são como os tijolos que erguem o alicerce de conduta para toda vida. É claro que esse código acompanha as transfor­mações sociais, mas a essência se mantém.

Assim como a falta dos bons exemplos, podem ocorrer os maus exemplos como os palavrões, as brigas, as agres­sões, o desrespeito, o tabagismo, o alcoolismo, etc. Portanto, os adultos que convivem com crianças de­vem ser bons exemplos para as mesmas, em seus atos e em ua forma de ser. Exemplo de honestidade, em falar a verda­de, de justiça, de respeito, praticando com todas as pessoas e principalmente com as crianças.

Ensinar valores é também passar ao mesmo tempo no­ções de bem e mal. A criança aprende a não discriminar as outras raças ao perceber que os adultos não discriminam. São assimiladas muito mais as risadas dos pais quando escuta uma piada sobre uma determinada raça do que quando ouve um dis­curso sobre igualdade. O respeito dos adultos aos emprega­dos, assessoristas, porteiros e secretárias, deve ir além de um formal obrigado ou de uma questão de bons modos. Está muito mais na maneira como os adultos dão a devida im­portância a cada função dessas pessoas. Mostrar com atitu­des, que essas pessoas, independente da função que exer­cem, têm a sua dignidade. Isso também se aplica no trata­mento dedicado às pessoas mais velhas, aos deficientes físi­cos, às diferentes classes sociais e a todos os demais seg­mentos da sociedade e da natureza.

Todos os pais, professores e demais adultos devem en­tender que a criança aprende de várias formas, mas os exem­plos são predominantes na formação dos conceitos do que é correto ou não fazer. Um pai ou uma mãe que são desorganizados, não po­dem esperar que o filho seja organizado. Um pai que não tem interesse para com os estudos do filho e que nem mes­mo vai conhecer o colégio e os professores do mesmo, não pode esperar que o filho seja um estudioso. O pai ou a mãe que está permanentemente reclamando do seu trabalho, suas atribuições ou afazeres, não pode esperar que os filhos gostem de se dedicar aos estudos ou a qualquer outra função que lhe seja atribuída.

O casal que não se respeita mutua­mente, não pode esperar que os filhos os respeitem ou que haja respeito entre os irmãos e deles para com os seus ami­guinhos e colegas. Os pais que vivem gritando com os filhos não podem esperar que os filhos sejam calmos e silenciosos. Os pais que por qualquer motivo ou até sem motivo aparen­te para a criança estão batendo nos filhos, não podem espe­rar que esses não venham a bater nos irmãozinhos, nos pri­mos, amiguinhos e colegas. Pais inseguros, intranqüilos e preocupados, não podem esperar que os filhos não sejam medrosos, inseguros e inquietos.

Um pai grosso, indelicado, mal-educado e uma mãe mandona, ríspida e indelicada, não podem esperar que os filhos sejam obedientes e bem com­portados. Pais que não se amam não podem esperar que os filhos saibam amar, pois: "os filhos aprendem a amar não, sendo amados, mas ao perceber que os pais e as pessoas se amam". Os pais não podem esperar dos filhos o amor a Deus e a dedicação à religião se eles não derem o exemplo.

Do mesmo modo como o exemplo dos pais, tem um valor muito grande o ambiente escolar na formação da cri­ança. As mesmas regras atribuídas aos pais são atribuídas aos professores, mas algumas são específicas.
Professores que não têm amor pelo que fazem, que não demonstram a satisfação pela sua atitude de ensinar, não podem esperar que os alunos automaticamente gostem de aprender ou desenvolver o prazer pela sala de aula. Profes­sores que vivem gritando em sala de aula, não podem espe­rar que os alunos sejam silenciosos. Professores que ao par­ticiparem de uma aula ou seminário dedicado a eles ficam conversando, desatentos, jogando papéis sob as cadeiras ou comendo algo, não podem esperar ter alunos disciplinados em sala de aula. Professores que demonstram não terem pre­parado suas aulas, não podem esperar que os alunos tenham muito interesse pela lição de casa.

É dentro de casa, na socialização familiar, seguindo pela escola e em toda a sociedade, que a criança é treinada e ad­quire, aprende e absorve a disciplina de conduta para, num futuro próximo, tornar-se uma pessoa disciplinada. Seus maiores treinadores são os pais, professores, mestres, ídolos ou alguém que cative a sua admiração.

A disciplina não depende exclusivamente de um indi­"riduo: pressupõe a existência do disciplinador e do discipli­nado em função de um objetivo, num determinado contex­to. Por isso, é importante que todas as pessoas que tenham uma função educadora, tenham os conhecimentos mínimos de algumas características psicológicas dos relacionamentos humanos. Eles são interativos, isso é, ação provoca rea­ção que, por sua vez, passa a estimular novas reações numa seqüência.

Os adultos e principalmente os pais, professores, avós, tios e outros parentes próximos, devem procurar além de conceitos, passar para o educando normas de conduta atra­vés do bom exemplo.

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