É sempre mais fácil definir pela exclusão, ou seja, definir o que a ciência não é. Podemos imaginar um espaço contínuo, no meio do qual colocamos a ciência e nos extremos o senso comum e a ideologia. Ao dizermos que se trata de um espaço contínuo, aceitamos que os limites entre estas categorias não são estanques; pelo contrário, eles se superpõem nas orlas de contato.
O critério de distinção do senso comum seria o conhecimento acrítico, imediatista, que acredita na superficialidade do fenômeno. A dona-de-casa também sabe de inflação, porque percebe facilmente a subida . contínua dos preços; mas seu conhecimento do problema é diferente daquele do economista, que tem para ele já uma teoria elaborada (ou várias) e uma avaliação crítica de profundidade. Podem-se colocar dentro do senso comum também modos ultrapassados de conhecer fenômenos, considerados como crendices ou coisas semelhantes. O trabalhador rural pode ter seu método de previsão de chuva, usando como indicador importante o zurrar do burro; o agrônomo se sentirá inclinado a rejeitar este método e a buscar outros indicadores tidos por mais críticos e realistas. Muitas doenças são curadas por métodos caseiros, resultantes de conhecimentos historicamente acumulados; a medicina acadêmica pode aceitar certos métodos, mas há de preferir vias testadas por experiências críticas, realizadas em laboratórios de pesquisa. Em tudo, o critério de distinção é o espírito crítico no tratamento do fenômeno, traduzido em características como profundidade e rigor lógico.
O critério de distinção da ideologia será o caráter justificador deste tipo de conhecimento. Justificar, ao contrário de argumentar, significa buscar a convicção, a adesão, a defesa do problema em foco. Enquanto o senso comum costuma ser uma postura singela, a ideologia alcança níveis da maior sofisticação, mesmo porque sua arma mais vantajosa é seu envolvimento com a ciência, na procura de vestir a prescrição com a capa de descrição. Inclui a deturpação dos fatos em favor da posição a ser defendida, e chega mesmo à falsificação, quando atinge o nível da própria mentira. As interpretações divergem bastante quanto à importância do fenômeno ideológico. havendo os que o julgam predominante e avassalador (num mar de ideologia há pequenas ilhas dispersas de ciência) e os que o julgam cada vez mais residual (num mar de ciência restam ainda poucas ilhas de ideologia).
Encontramos ideologia na produção científica porque, sendo a ciência um fenômeno social, não pode escapar ao posicionamento político, manifesto ou latente. Encontramos senso comum porque não somos capazes de discursar sobre todos os assuntos com conhecimento especializado.
Aceitando-se, então, que a ciência difere do senso comum e da ideologia, quais seriam os critérios de cientificidade, para não ficarmos apenas numa definição por exclusão? Podemos imaginar critérios internos e externos. Os internos são:
Coerência. Significa argumentação estruturada, corpo não contraditório de enunciados, desdobramento do tema de forma estmturada, dedução lógica de conclusões.
Consistência. Significa a capacidade de resistir a argumentações contrárias.
Originalidade. Significa produção não tautológica nem meramente repetitiva, representando uma contribuição ao conhecimento.
Objetivação. Significa a tentativa de reproduzir a realidade assim como ela é, não como gostaríamos que fosse.
Além destes, há ainda critérios externos, redutíveis à intersubjetividade, de que são exemplos a divulgação, a comparação crítica e o reconhecimento generalizado.
A exigência de critérios externos decorre do caráter social e histórico da ciência. Equivale a dizer que a ciência não é um todo acabado. Uma ciência acabada destruiria a concepção de processo científico e perderia a noção de utopia da verdade. Toda teoria não passa de um tijolo substituível no edifício inacabável da ciência. Equivale a dizer que o produto da ciência é passível de discussão, exceto se introduzirmos o dogmatismo.
Ao perigo do dogmatismo corresponde o do relativismo: não havendo possibilidade de fundamentação última, a ciência então não passaria de um jogo diletante e descompromissado, em que cada qual diz o que quer e aceita o que bem entender. Tal relativismo não é sustentável sociologicamente, porque a ciência não é um fenômeno individual, mas social, ou seja, a demarcação científica é feita mais pela comunidade que pelo indivíduo.
Você poderá gostar também:
Metodologia de desenvolvimento do conhecimento econômico
A ocupação da economia
A economia como ciência social
A abertura da economia brasileira nos anos 90
Commodities: o que são?
Como é a economia atual?
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano atual no Brasil
O que é Política Fiscal, e como funciona?
Política Cambial - câmbio flutuante, fixo e forma híbrida
Política Monetária
Políticas Econômicas: reguladora, provedora de bens e serviços, redistributiva e estabilizadora
Modelo Unipolar, Bipolar, Multipolarização - Desafios para o Futuro
O que é marketing?
Hoje ganha não quem é maior, mas quem é mais rápido
Sucesso empresarial
Tendo uma visão global do negócio
Gostou do artigo?
Compartilhe nas redes sociais!
Encontrou o que procurava?
O blog lhe foi útil?
Então, curta o Yesachei no Facebook!
0 comentários :
Postar um comentário
Atenção!
Faça seu comentário, mas sempre com responsabilidade, caso contrário, ele não será publicado!
Não serão aceitos comentários que denigram pessoas, raças, religião, marcas e empresas.
Sua opinião é importantíssima para o crescimento do blog. Portanto, comente, o blog agradece!