Por que comemos tanto e mal?



Não há estrangeiro que visite os Estados Unidos e deixe de ficar impressionado com o tamanho das porções servida em res­taurantes e lanchonetes. O hambúrguer é cavalar, a batata frita sozinha alimen­taria uma pequena aldeia na África; mergulhada em molhos calóricos, a sa­lada pode ser tudo, menos da família dos alimentos de regime.

E o refrige­rante então? Enquanto critica, o visi­tante vai beliscando aqui e ali. Quando vê, já detonou o que considerava um absurdo. Porções imensas, de acesso fácil e barato, estão no topo de todas as listas de pecados que encaminharam 66% dos americanos para o sobrepeso e, destes, 30% para a obesidade. Os hábitos engordativos começam no ber­ço e o resultado é que, entre crianças e adolescentes, um em cada três está aci­ma do peso. A comilança generalizada se instalou nos últimos trinta anos, com a fartura de oferta e o enraizamen­to do hábito de consumir comidas prontas. Em vinte anos, uma porção de pipoca servida no cinema passou de um pacote médio de 270 calorias para baldes de 630 calorias. A porção de carne num cheeseburger pesava 45 gramas quando o McDonald's foi fun­dado, em 1955. Hoje, chega a 230 gra­mas. A garrafa original de Coca-Cola, de 235 mililitros, foi trocada pela latinha de 350 mililitros, para não falar nos contêineres em que o refrigerante é reposto, sem pagamento extra, ao longo da refeição. "As pessoas gostam de porções grandes do mesmo jeito que adoram um desconto ou uma liqui­dação. É gratificante gastar pouco di­nheiro para comprar muita coisa. Tam­bém compensa para restaurantes e fa­bricantes, porque o custo da comida fica bem abaixo do que é cobrado", avalia Lisa Young, professora adjunta de nutrição e saúde pública da Univer­sidade de Nova York.

Antes que tudo vire mais uma ma­nifestação banal de antiamericanismo, é preciso esclarecer: comer cada vez mais é uma tendência que antecede de muito tempo a invenção do fast-food. Uma pesquisa do professor Brian Wan­sink, da Universidade Conell, em No­va York, avaliou o tamanho dos pratos servidos na "mais famosa das refei­ções", a Santa Ceia, em quadros de mestres da pintura ao longo dos sécu­los. Notou-se que numa pintura de Duccio, gênio roscano do século XIII, a quantidade de comida em relação ao número de pessoas é significativamen­te menor que na Santa Ceia de Tintoreno, do século XlV. Conclusão evi­dente: quanto mais próspera a época em que viviam os pintores, mais comi­da Jesus e os apóstolos tinham à sua frente. "Os pintores não planejaram aumentar o tamanho das porções. Eles estavam concentrados na representa­ção das pessoas. A quantidade de ali­mentos aumentou de maneira incons­ciente, baseada na realidade da época", diz Wansink. Feita a ressalva, voltemos

aos maus hábitos americanos. Ninguém come tanto por tão pouco como eles. Foi no kônko McDonald's que o documenta­rista americano Morgan Spurlock, de Super Size Me, em 2003, passou um mês fazendo todas as refeições. Toda vez que o atendente oferecia porção um pouco maior por acréscimo irrisório de preço (o supersize), ele aceitava. Acabou a experiência com 11 quilos a mais, problemas de saúde e o mesmo humor azedo que o levou a ter a ideia do documentário. Cordatamente, o McDonald's acabou com o supersize.

Jogar pedra nas lanchonetes virou quase banal quando se trata de propagar as virtudes da alimentação saudável. Como o atual governo é do tipo que acredita em melhorar as pessoas, a cam­panha pela mudança de hábitos alimen­tares infantis está sendo encabeçada pela primeira-dama Michelle Obama, ela própria tão obcecada em manter a boa forma que se levanta às 4 da madrugada para fazer esteira. Obrigar fabricantes e distribuidores a mostrar a quantidade de calorias de cada alimento pode ser mais difícil do que parece. O FDA, ou Food and Drug Admínistration, órgão do governo que regulamenta o setor, luta para desempenhar uma tarefa aparentemente simples: adaptar a porção-padrão indicada na tabela nutridonal dos alimentos aos novos e gordos tempos. A última revisão foi em 1991, baseada no que os americanos comiam nas duas décadas anteriores. Desde então, o conteúdo dos pacotes inchou tanto que a embalagem de um cookie, espécie de biscoito redondo, traz informações relativas a meio cookie. Pergunta: quem come meio cookie? Ninguém, evidentemente. Da mesma forma que é quase impossível enfrentar um sistema de bufê sem exagerar em alguma coisa. "Por causa da enorme disponibilidade de comida e do preço fixo, as pessoas acabam comendo muito mais do que precisam. Pior ainda, comem muito mais massas e pães do que legumes e verduras. Sem contar os lindos doces que as esperam no fim do balcão", diz a nutricionista Daniela Jobst, de São Paulo. As ceias que de santas não têm nada são a mais constante tentação do mundo contemporâneo.

Por que comemos tanto?

É uma questão de disponibilidade e de preço baixo. Quem observar a questão nos países em desenvolvimento verá que as pessoas estão gastando 25% menos do que gas­tavam com alimentação há cinquenta anos, e comendo mais. Nos Estados Unidos dos anos 60; a família típica gastava 24% da sua renda com alimen­tação. Hoje, gasta 6%. Os preços fica­ram muito mais acessíveis. Sem falar na facilidade: não é preciso ir muito longe, o supemercado está ali na esquina.

Nem sequer é preciso ir à lanchonete comprar refrigeranre, porque no local de trabalho há uma máquina só para isso.

Por que comemos mal?

É mais conve­niente. Ao chegar em casa com fome, é mais fácil comer um prato pronto, que não demanda descascar, cortar, cozi­nhar. Infelizmente, é também o mais calórico.




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