Balanced scorecard: feedback e aprendizado



"Com o balanced scorecard", disse-nos o CEO de uma em­presa de engenharia, "sou capaz de testar continuamente minha estratégia. É como a execução de uma pesquisa em tempo real". Esse é exatamente o recurso que o scorecard deve proporcionar aos gerentes seniores: a capacidade de saber a qualquer momen­to do esforço de implementação se a estratégia está de fato fun­cionando e, em caso negativo, por quê.

Os primeiros processos gerenciais - tradução da visão, comunicação e conexão, e planejamento de negócios - são vi­tais para a implementação da estratégia, mas não são suficientes num mundo imprevisível. Juntos, eles constituem um importan­te processo de aprendizado de loop único, no sentido de que o objetivo permanece constante, e qualquer desvio da trajetória planejada é visto como defeito a ser corrigido. Esse processo de Ioop único não exige nem mesmo facilita o exame da estratégia ou das técnicas adotadas para sua implementação; à luz das con­dições vigentes.

Hoje, a maioria das empresas opera em ambientes turbulen­tos, com estratégias complexas que, embora válidas quando fo­ram desenvolvidas, talvez se tornem inadequadas com a mudan­ça das condições dos negócios. Nesse tipo de contexto, no qual surgem a toda hora novas ameaças e oportunidades, as empre-
sas devem tornar-se capazes do que Chris Argyris chamou de aprendizado de loop duplo - aquele que produz mudanças nos pressupostos e teorias das pessoas sobre as relações de causa e efeito. (Ver "Teaching Smart People How to Learn", Harvard Business Review, maio-junho de 1991.)
As revisões do orçamento e outras ferramentas gerenciais de base financeira não envolvem os executivos seniores no apren­dizado de loop duplo - primeiro, porque essas ferramentas abordam o desempenho apenas sob uma perspectiva e, depois, porque não proporcionam o aprendizado estratégico, que con­siste em reunir feedback, testar as hipóteses em que se funda­menta a estratégia e efetuar os ajustamentos necessários.

O balanced scorecard fornece três elementos essenciais ao aprendizado estratégico. Primeiro, desenvolve a visão compar­tilhada da empresa, definindo em termos operacionais claros os resultados que a empresa está procurando alcançar como equi­pe. O scorecard comunica um modelo holista que interliga os esforços e realizações individuais com os objetivos das unidades de negócios.

Segundo, o scorecard proporciona o imprescindível sistema de feedback estratégico. A estratégia de negócios pode ser vista como um conjunto de hipóteses sobre relações de causa e efeito. O sistema de feedback estratégico deve ser capaz de testar, vali­dar e modificar as hipóteses embutidas na estratégia da unidade de negócios. Ao fixar metas de curto prazo, ou marcos, no pro­cesso de planejamento de negócios, os executivos estão prog­nosticando as relações entre as mudanças nos vetares de desem­penho e as variações daí decorrentes em uma ou mais metas específicas. Por exemplo, os executivos no Metro Bank estima­ram o tempo necessário para melhorar o treinamento e a dispo­nibilidade de sistemas de informação para que os empregados tivessem condições de vender com eficácia os vários produtos financeiros aos clientes existentes e novos. Também estimaram a magnitude do efeito desse aumento na capacidade de vendas.

Outra organização tentou validar suas hipóteses de relações de causa e efeito no balanced scorecard, mensurando a força dos ) elos entre os indicadores das várias perspectivas. (Ver o quadro
"Como Certa Empresa Conectou os Indicadores das Quatro Perspectivas.) A empresa descobriu correlações significativas entre moral dos empregados, indicador da perspectiva de apren­dizado e crescimento, e satisfação dos clientes, importante indi­cador da perspectiva dos clientes. A satisfação dos clientes, por sua vez, se correlacionava com o pagamento mais rápido das faturas - relação que gerava substancial redução em contas a receber e, assim, maior retorno sobre o capital investido. A em­presa também descobriu correlações entre moral dos emprega­dos e quantidade de sugestões apresentadas pelos empregados (dois indicadores de aprendizado e crescimento), assim como entre o aumento da quantidade de sugestões e a redução do volume de retrabalho (indicador do processo organizacional interno).

A comprovação dessas fortes correlações ajuda a con­firmar a estratégia de negócios da empresa. No entanto, se com o tempo não se constatam as correlações esperadas, isso seria um indício para os executivos de que a teoria subjacente à estratégia da unidade talvez não esteja funcionando confor­me as expectativas.

Sobretudo nas grandes organizações, o acúmulo de dados suficientes para documentar correlações e causações significati­vas entre os indicadores do balanced scorecard às vezes demora muito tempo - meses ou anos. A curto prazo, a avaliação do impacto estratégico pelos gerentes talvez tenha de basear-se em julgamentos qualitativos e subjetivos. Todavia, no final, à medida que se acumulam as provas, as empresas conseguem efetuar esti­mativas em bases mais objetivas sobre as relações de causa e efei­to. Mas apenas fazer com que os gerentes pensem de maneira sistemática sobre os pressupostos subjacentes à estratégia já é uma conquista em comparação com a prática predominante de decidir com fundamento em resultados operacionais de curto prazo.

Terceiro, o scorecard facilita a revisão da estratégia que, por sua vez, é essencial para o aprendizado estratégico. Tradicional­mente, as empresas usam as reuniões mensais ou trimestrais en­tre os executivos da corporação e das divisões para a análise dos resultados financeiros do período. As discussões concentram-se no desempenho passado e em explicações sobre as causas do




não-cumprimento dos objetivos financeiros. O balanced scorecard, com a especificação das relações causais entre vetores de desempenho e objetivos, permite que os executivos da corporação e das unidades de negócios utilizem as sessões de revisão periódicas para avaliar a validade da estratégia da unida­de e a qualidade da sua execução. Se os empregados e os geren­tes da unidade atuaram sobre os vetores de desempenho (retreinamento dos empregados, disponibilidade de sistemas de informações, e novos produtos e serviços financeiros, por exem­plo), a incapacidade de alcançar os resultados esperados (au­mento das vendas a clientes-alvo, por exemplo) é sinal de que a teoria subjacente à estratégia talvez não seja válida. O desapon­tamento com os números referentes às vendas talvez seja uma primeira advertência.

Os gerentes precisam levar a sério essas provas em contrário e reconsiderar as conclusões compartilhadas sobre participação de mercado, proposições de valor para os clientes, comporta­mento dos concorrentes e capacidades internas. O resultado dessa análise talvez seja a decisão de reafirmar a crença na estratégia vigente, mas reajustando as interligações quantitativas entre os indicadores estratégicos do balanced scorecard. Mas também podem concluir que a unidade necessita de uma estratégia dife­rente {exemplo de aprendizado de loop duplo), à luz dos novos conhecimentos sobre as condições de mercado e sobre as capaci­dades internas. De qualquer maneira, o scorecard terá estimulado os executivos-chave a melhor analisar a viabilidade da estratégia. Essa capacidade de promoção do aprendizado organizacional no nível executivo - aprendizado estratégico - é o diferencial do balanced scorecard, tornando-o de valor inestimável para os que pretendem criar um sistema gerencial estratégico.

Rumo a Novo Sistema Gerencial Estratégico

Muitas empresas adotaram os conceitos preliminares do balanced scorecard para melhorar os sistemas de mensuração do desempenho. Os resultados foram tangíveis, mas pequenos.
A utilização desses conceitos proporcionou esclarecimento, consenso e foco sobre as melhorias de desempenho almejadas.

Mais recentemente, temos visto empresas expandirem o uso do balanced scorecard, convertendo-o no fundamento de um siste­ma gerencial estratégico e interativo. Essas empresas estão usan­do o scorecard para:

a) - Esclarecer e atualizar a estratégia .
b) - Divulgar a estratégia em toda a empresa.
c) - Alinhar as metas das unidades e dos indivíduos com a es­tratégia.
d) - Conectar os objetivos estratégicos às metas de longo pra­zo e aos orçamentos anuais.
e) - Identificar e alinhar as iniciativas estratégicas.
f) - Conduzir avaliações do desempenho periódicas para co­nhecer e melhorar a estratégia.

balanced scorecard capacita a empresa a alinhar os proces­sos gerenciais e concentrar toda a organização na implementação da estratégia de longo prazo. Na National Insurance, oscorecard forneceu ao CEO e aos gerentes um referencial central em tor­no do qual reformularam todos os componentes do sistema gerencial da empresa. E em razão das relações de causa e efeito inerentes ao referencial do scorecard, as mudanças em determi­nado componente do sistema reforçam as transformações ante­riores em outros componentes. Assim, todas as mudanças efetuadas durante um período de 30 meses ampliaram o ímpeto que mantinha o avanço da empresa na trajetória estratégica.

Sem o balanced scorecard, a maioria das organizações é inca­paz de alcançar a mesma compatibilidade entre visão estratégica e ação gerencial, nas tentativas de mudar de direção e de implementar novas estratégias e processos. O balanced scorecard fornece o referencial para gerenciar a implementação da estra­tégia, ao mesmo tempo em que fomenta a evolução da própria estratégia em resposta às mudanças nos ambientes competitivo, mercadológico e tecnológico da empresa.

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