A escola e a transformação social




A) As forças progressistas presentes na escola

Segundo Georges Snyders, as forças progressistas na escola são: a resistência dos alunos, os professores progressistas e a pressão dos movimentos populares. A primeira força progressista vem questionar a tese pela qual Establet-Baudelot afirmam ser a escola mera transmissora de ideologia. Mesmo admitindo que a escola transmita os valores da classe dominante, cabe refletir: Os alunos seriam incapazes de perceber essa ideologia? Os alunos se comportariam sempre de modo homogêneo, aceitando tudo, como se fossem máquinas? A essas questões, Snyders responde não, pois o aluno é um ser social dinâmico que sente, ouve, pensa e a partir daí responde, questiona, desconfia ou simplesmente não acredita em tudo o que vê na escola.

O processo de transmissão de ideologia na escola não ocorre sem conflitos. Aos valores da classe
dominante que os professores conservadores impõem na sala de aula, os alunos reagem de modo dinâmico: uns aceitam, outros não; alguns ouvem em silêncio, outros protestam e tumultuam o desenvolvimento da aula.

No cotidiano de uma escola, podemos observar que o aluno não acredita em tudo que o professor transmite: nem tudo o que o professor pede o aluno faz. Isso nos mostra que a reprodução dos valores da sociedade capitalista na escola não se dá harmonicamente, mas sim dentro de um conflito. Este conflito, por sua vez, nos mostra o quanto os alunos resistem à pura imposição de ideologia.

A segunda força progressista presente na escola questiona a tese em que Establet-Baudelot afirmam que todo professor é necessariamente reprodutor de ideologia. Se realmente existem professores conseIVadores e muitos que até inconscientemente colaboram para transmitir a ideologia da classe dominante, isto não significa que não possam existir também professores progressistas.

Existem professores que se recusam a transmitir os valores da sociedade capitalista como os únicos verdadeiros. São professores que se empenham cada vez mais em desenvolver o senso crítico dos alunos, procuram denunciar em suas aulas as relações de poder e dominação presentes em nossa sociedade. Existem professores que descobrem que também são da classe trabalhadora e por isso são sensíveis aos problemas que esta classe enfrenta.

Os professores progressistas conseguem em alguns casos até adequar a sua linguagem à dos alunos, de tal forma que conseguem com sucesso não apenas transmitir aos alunos conhecimentos novos, como também ajudá-las a desenvolver o senso crítico diante dos conhecimentos transmitidos.

Em resumo, a escola não é feita só de professores consevadores, como afirmam Establet-Baudelot; ao contrário, existem aqueles que denunciam, protestam e lutam dentro e fora da escola por um novo modo de vida.

A terceira força progressista presente na escola leva a questionar a tese em que Establet-Baudelot afirmam não ser a escola local de luta para transformar a sociedade. Devemos ter em mente que se a classe trabalhadora não visse a escola como algo importante, jamais se iria organizar em movimentos sociais para exigir mais vagas.

Apesar dos elementos consevadores que dentro da escola atuam a serviço da classe dominante, existem nela forças progressistas e isto faz a escola aparecer como instituição importante para a classe trabalhadora. Por isso, é comum nas periferias das grandes cidades vermos sempre passeatas, abaixo-assinados e outras manifestações pelas quais a população local exige mais escolas.

A cada dia que passa, esses movimentos sociais se tornam também uma das forças progressistas que atuam sobre a escola. Desses movimentos surgem os pais que exigem bom atendimento escolar aos seus filhos, surgem também os alunos com senso crítico. A partir daí, muitos diretores e professores são forçados a tomar medidas que melhorem o padrão de ensino ou que modifiquem aspectos conservadores da escola.

Snyders, por sua vez, leva a refletir que o interesse da classe dominante consiste em criar uma escola deficiente enquanto que os trabalhadores a querem diferente: desejam que seja de alto nível. Nesse caso, a escola nos abre a possibilidade de fazer com que nos posicionemos com as forças conservadoras ou entre as forças progressistas, sendo que, aproximando-nos dessas últimas, estaremos agindo segundo os interesses da classe trabalhadora e, nesse contexto, o melhor caminho para tornar uma escola eficiente é nos esforçar para que ela transmita bem os conteúdos relevantes aos seus alunos: ter acesso ao saber, mesmo que tradicional, é o primeiro passo para o desenvolvimento da consciência crítica.


B) A escola como espaço de transformação social

Segundo Snyders, as forças progressistas presentes na escola servem para demonstrar que a escola é um espaço institucional disputado tanto pela classe dominante como pela classe trabalhadora. A primeira deseja que a escola esteja a serviço dos seus interesses: qualificar mãode-obra e torná-la submissa. A segunda deseja também que a escola esteja a serviço dos seus interesses: ter acesso a um conhecimento útil que possa ajudar a melhorar de vida, o que pode implicar um processo a mais na transformação da sociedade capitalista.

Como esses dois interesses são opostos, isso acaba por desencadear um conflito, uma luta de luta de classes dentro da escola: enquanto a estrutura escolar, através de suas normas, conteúdos e agentes conservadores, tenta impor os interesses da classe dominante, o outro lado reage: alunos que não aceitam as normas, professores progressistas que modificam os conteúdos em função dos mais pobres, ou pais que exigem uma escola eficiente.

O resultado da luta de classe na escola pode ser um dos caminhos para a transformação da sociedade capitalista. Isto, porém, não foi bem percebido por Establet-Baudelot, que viam na escola apenas o seu aspecto de reprodução, pelo que negavam a existência das forças progressistas nessa instituição.

Georges Snyders, outro pensador francês, que escreve a partir da década de 1970, se propõe a fazer uma crítica das teorias desenvolvidas por Establet-Baudelot, procurando perceber os aspectos teóricos ainda válidos para o desenvolvimento duma sociedade educacional progressista, por outro lado, os limites das teses dos dois autores.


Establet-Baudelot deram importantes contribuições para que percebêssemos a escola não como instituição que prepara para a vida em sociedade, mas como instância reprodutora da ideologia da classe dominante. Neste contexto, os dois autores afirmam que a escola não é a mesma para todos e nem trata a todos da mesma forma. Este é, para Snyders, o mérito da teoria de Establet-Baudelot: desmascarar a escola, revelando-a como a instituição que impede os alunos pobres de desenvolver seu potencial de vida, pois ao entrarem na escola os alunos encontram uma linguagem e conteúdo que não se relacionam com suas vidas e seus problemas. A escola é uma instituição de reprodução das desigualdades sociais.

Os limites da teoria de Establet-Baudelot aparecem no momento em que atribuem à escola apenas e exclusivamente a condição de reprodutora. Ao contrário, Snyders afirma que é importante perceber no cotidiano escolar seu lado transformador, seu lado questionador da sociedade instituída. Assim, enquanto Establet-Baudelot se limitam a analisar o aspecto conservador da escola, Snyders afirma que é preciso ir além e descobrir nas relações cotidianas da escola sua dimensão progressista.

Ao afirmar que a escola pode ser instituição dinâmica que ajude na transformação das igualdades sociais, Snyders não está negando o papel fundamentalmente conservador que ela desempenha: em última instância, ela continua a ser reprodutora da ideologia da classe dominante. Porém, a escola não se resume a isso, existem no seu interior forças progressistas atuando para a transformação da própria escola e da sociedade.


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1 comentários :

Anônimo disse... [Responder comentário]

gostaria de saber qual música se encaixa nesse assunto para eu poder trabalhar em sala.

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