Método do estudo eficiente



Entre duas pessoas que tenham o mesmo nível mental (QI), pro­cessos cognitivos bastante semelhantes e o mesmo grau de escolaridade, é possível que uma seja mais eficiente que a outra no estudo? Acredita­mos que sim e temos constatado, com freqüência. que isso ocorre. E o motivo nos parece, também, óbvio: o método de estudar. Não é o único fator da diferença de rendimento. Mas é um  fator sempre presente e te­mos alguma base para acreditar que seja o principal.

A eficiência do estudo depende de método. Mas o método depende de quem o aplica. São duas afinnações que julgamos como primeiros princípios ou "leis" do estudo eficiente. Não nos deteremos em analisá-las, apenas os consideraremos como marcos ou pontos de partida para as indicações e ltécnicas do estudo eficiente que faremos daqui em diante.

Quem recomenda o método a uma pessoa e depois a outra, pode estar certo de que esta o usará de um modo, aquela de outro. De uma pode se conseguir cem por cento de resultado, da outra, talvez, bem me­nos. É que o uso e o resultado do método estão intimamente relacionados com capacidade, tipo de personalidade, feitio de inteligência, experiências e hábitos de quem o emprega.

Entretanto, temos de considerar, também, o aspecto objetivo do método. Este em si costuma ser simples. O que o torna, porém, compli­cado, difícil e impraticável é, muitas vezes, o conjunto de regras e técnicas que o compõem ou se estabelecem como se fossem ele mesmo. A estratégia é, quase sempre, simples e fácil. As táticas é que costumam ser numerosas, complexas e difíceis. Generalizamos este ponto de vista para o método em todas as situações e temos segurança em aplicá-la ao método do estudo eficiente.

Em nossa experiência passada de orientador educacional, temos ob­servado que um feixe de técnicas bem aplicadas, principalmente por quem deseja extirpar hábitos negativos de estudo, é o suficiente. Quantas vezes ouvimos, em nosso gabinete e mesmo em sala de aula, estudantes reclamarem de certos livros de técnicas de estudo, porque eram tantas e tão elevadas as exigências e "conselhos" ali apresentados que somente um ser perfeito seria capaz  de praticá-los.

Infrutífero seria discutir aqui qual o melhor método de estudo efi­dente. Inclusive, porque nos parece não haver diversidade de métodos de estudo. Apenas há divergências entre os autores, na ênfase e na enu­meração de processos e técnicas.

Em síntese, o método do estudo eficiente se reduz nos seguintes fundamenta:

1 Finalidade: desenvolver hábitos de estudo eficiente que não se restrinjam apenas a determinado setor de atividade ou matéria específicas, mas hábitos que sejam válidos, pelo processo de transferência de aprendizagem, para as demais situações e sejam eficientes para o trans­curso da vida.

2 - Abmngêncla: servir de instrumento a todos que tenham as mesmas necessidades e interesses, em qualquer fase de desenvolvimento e escolaridade, podendo aperfeiçoar-se à medida que o indivíduo progride, através de seus próprios recursos.

3- Prooessamento: ser GLOBAL-PARCIAL-GLOBAL, seguindo assim o princípio geral que rege a própria natureza: o do desenvolvimento "difuso-analítico-sintético" .

Como o processamento é a razão de ser do método, teremos condições de estabelecer que as técnicas do estudo eficiente derivam dessas três fases, conforme se pode perceber no esquema. abaixo. Leia-o refleti­damente e imagine-o colocado como uma resposta ao seu problema de -estudante interessado em maior rendimento no estudo. Se o desenvolvês­semos, estaríamos escrevendo um programa de como estudar e, esta não é nossa intenção.

Preferimos este sistema esquematizado de apresentação do método por nas parecer mais objetivo e de mais fácil apreensão. Como se vê, o quadro se divide em três categorias: as  fases - as atitudes - as técnicas a serem empregadas.
 
Método do estudo eficiente
 
 








O estudante que adquirir o hábito de estudar com tal método pode estar tranqüilo de que obterá grandes vantagens.

Conseguirá maior produção ideativa e racional. Sua memória intelectual aumentará sensivelmente. Obterá maior capacidade de análise e de síntese. Terá mais facilidade na comunicação. Sobretudo, se com­pletar o próprio método com a prática da "discussão"de assuntos em equipe ou em grupo de estudo. A experiência ensina que o estudo em grupo só tem eficácia se todos os elementos já vão para o estudo cole­tivo com o conhecimento da matéria. O estudo coletivo servirá para re­solver dúvidas, estabelecer confronto dos próprios pontos de vista com os dos colegas. Ajuda a desenvolver, sobretudo, a capacidade decomuni­cação. A ilusão de muitos estudantes é estabelecer o estudo em grupo co­mo uma das modalidades de estudar pela primeira vez um assunto. Ge­ralmente o resultado é negativo e constitui perda inestimável de tempo.

O método acima apontado apresenta ainda uma grande utilidade: armazenagem de conhecimentos e documentação para a vida.

4.2. - O método e o pequeno conjunto de técnicas práticas aqui expostos prendem-se a um eixo comum: a leitura proveitosa. Não quere­mos, entretanto, que o estudante infira que estamos identificando o estudo com a leitura proveitosa do livro de textos. Verificamos que esta é ­a prática condicionadora da formação intelectual de nossos estudantes brasileiros, mas não concordamos que seja a mais indicada, a mais pro­ducente. Sabemos até que tem sido um dos maiores obstáculos no desen­volvimento científico de nosso país. Torna-se fonte de mediocridade in­telectual ou de memorismo vazio, quando não de eruditismo improdutivo que "soa, mas não cria". O estudante que intenciona desenvolver-se e­ mais tarde transformar-se em autêntico trabalhador intelectual, a partir da, atividade de "estudar para fazer o curso", tem de interessar-se curiosa­mente por outras fontes de informação que não o livro de texto, habi­tuar-se a ler os autores e suas teorias e, sobretudo, procurar com vontade e persistência respostas aos problemas que ele mesmo levanta. Tem de habituar-se a questionar e verificar por iniciativa própria, para tirar as suas conclusões.

Sabemos que dentro da estrutura do nosso ensino superior, é pra­ticamente impossível atingir, em todos os setores, o objetivo da "escola-­laboratório", onde o aluno pratica, experimenta, investiga, A maior parte de sua formação intelectual e profissional se faz através de livros. Mas que não seja exclusivamente através de livros de textos, de manuais, adotados. Mesmo sem possibilidade de praticar, experimentar e investi­gar, deverá desenvolver o hábito de estudar fora dos compêndios, indo, direto às fontes, consultando as obras importantes daquela. especialização­e os artigos científicos dos periódicos,

Afinal é preciso reviver, na prátíca, o método apontado por DES­CARTES:

"Para que um espirito adquira capacidade, é necessário exercitá-lo ­no descobrimento das coisas descobertas".

A "TÉCNICA POR EXCELÊNCIA"

Habituados à metodologia cientüica, através do magistério e da prá­tica em pesquisa, podemos garantir que todo método depende sempre do emprego do poder de decisão. O sucesso de uma pesquisa, por exemplo, vai depender, inicialmente, de poder decidir por qual método a ser empregado, o experimental ou o não-experimental; a seguir surgem momen­tos de decisão entre alternativas de sistemas de elaboração da hipótese, da forma e conteúdo das proposições, das técnicas a serem utilizadas na coleta de dados; requer-se decisão definitiva pelo tipo de amostragem que venha a ser mais significativa e representativa, pois, em geral, não haverá possibilidade de se voltar atrás; quando tiver que analisar os dados co­lhidos, terá o pesquisador que decidir por quais técnicas, se são necessá­rias estatísticas ou não, para ter mais sucesso na interpretação e explica­ção do fenômeno, em termos de maior probabilidade de acerto; ao final, decidirá definitivamente em aceitar as conclusões mais consoantes· com seu desenho de comprovação da hipótese. Aqui, apenas exemplificamos os principais estágios da pesquisa em que o poder de decisão é condição "sine qua non" do êxito da investigação e do emprego do método.

O método do estudo eficiente, também, depende do poder de decisão de quem pretende atingir seu objetivo. O estudante que não decide, com vontade,a empregá-lo, certamente não conseguirá êxito. Não basta ler e infonnar-se a respeito de como deve agir. Importante, também, é decidir a praticar.

Aqui, como em outros capítulos, insistiremos na necessidade de ten­tar, praticar e treinar. Quem não se impõe um período razoável de treinamento, dentro de um horário seriamente observado, não terá êxito ga­rantido. Nem terá condições, por outro lado, de subestimar o caminho indicado. Se não experimentou, como pode avaliar?

Por isso é que reputamos o treinamento como a "técnica por exce­lência" do método do estudo eficiente.

6. - O "HOW TO STUDY" DE MORGAN

Merece destaque entre "manuais de como estudar" recomendáveis ao estudante de nível superior, sobretudo àquele recém-admitido na Uni­versidade, a obra: MORGAN, Clifford e DELSE, James - How to study. N. York, Mc-Graw-Hill Book, 1957, com tradução em espanhol e português.

São dez capítulos bem distribuídos e didaticamente estruturados a fim de realizar, para o estudante, verdadeiro curso de como estudar. O mais importante é que o autor soube evitar as normas e conselhos, fruto do bom senso, mas sem comprovação. Julgamos interessante apresentar aqui uma recensão desse livro:

- Ao ingressar numa universidade, o estudante descobre que muita coisa passa a ser diferente: a estrutura e o ambiente não são como os da escola secundária. Verifica que já não basta dedicar-se ao estudo para conseguir êxito. "Há um grande número de coisas que a gente faz de ma­neira inadequada". O propósito do livro é ajudar a descobri-las.

O estudo é "um esforço total para se aprender, e só é verdadeiramente proveitoso, quando se aprende". É possível estudar melhor e em menos tempo, pois há método de estudo mais eficiente do que aquele que o estudante descobriu por si mesmo, por "ensaio-e-erro". As técnicas consideradas como as mais modernas e as melhores, "através de diversas investigações e comprovações", são apontadas. Mas antes o estudante é convidado a examinar-se com o autor para saber que tipo de estudante é. Isso é feito através de um questionário e a análise de possíveis respos­tas, para convencer ao estudante que o fundamental é conhecer-se. Afinal "a arte de estudar começa com a forma. em que organizamos nossa vida.".

O impacto e a desorientação do estudante, sobretudo do "calouro", na universidade, são explicados: o "bri1hante" aluno do curso secundário agora pode estar entre os comuns mais atrasados. Já que pertence à faixa bem diminuta dos melhores alunos do pais, os que conseguem penetrar na escola superior. Então, está competindo com colegas de seu nivel para cima. Além disso terá que agir por conta própria. Não pertence mais à comunidade dos dependentes. A pressão dos pais que só têm diante de si o aluno "brilhante" dos anos anteriores e querem que ele continue assim, e sonham com seu futuro promissor, é outra razão da desorientação do universitário. Mas é freqüente o jovem não perceber a situação e continuar supervalorizando-se. Através de investigações é constatado que a "maio­ria dos estudantes universitários não quer aceitar suas deficiências".

Uma teoria é desenvolvida na obra, ainda que o autor não a decla­re expressamente: o método do estudo proveitoso leva o estudante a ob­ter melhor qualificação universitária e os melhores alunos terão êxito garantido na vida posterior. Isso é comprovado através de pesquisa. O mais importante, porém, não é preocupar-se com boas qualificações aca­dêmicas, pois existem outras razões para interessar-se em melhorar as têcnicas de estudo; entre elas: a atração do saber, o "como fazê-lo" e o fato de se ganhar tempo estudando melhor. Afinal "o que importa não é o quanto estudas, mas como estudas". Por isso, o estudante que tra­balha não deve ser considerado exceção. É o que mais valor dá ao mé­todo eficiente e dele tira o melhor proveito: "segundo investigações, os estudantes que trabalham obtêm, em média, qualificações tão boas e até melhores do que aqueles que não trabalham". O estudante de sucesso não é só o "que estuda": "importam tanto as horas em que estuda como as que dedica a outras coisas". O problema básico é estabelecer horário, plano: "um horário bom feito proporciona tempo e te impede de va­cilar acerca do que vais fazer. Mostra que estás realizando o que deves no tempo conveniente". O estudante encontra a técnica mais prática e segura de fazer o horário adequado a seu tipo de vida: várias tabelas deverão ser preenchidas pelo interessado - cálculos são feitos para o planejamento acertado até que resulte em um horário eficaz. O problema da perda de tempo e de como empregá-la é dissecado. As condições físicas e local de estudo apropriado não são esquecidos.

O capítulo 3 é o ponto alto ela obra. A estratégia do estudo é aqui examinada com riqueza de técnicas. A fórmula "mágica" é o Survey = examinar - Q de Question = perguntar - os três R: Read  = ler - Repeat  = repetir e Review  =  rever).

A leitura como instrumento fundamental do estudante é tratada nos seus aspectos mais importantes: o que ler - como ler - o tipo ade­quado para assunto diversificado - o ritmo ,a ser empregado. Mostra como aumentar a velocidade da leitura sem perder o poder de compre­ensão e assimilação.

As formas adequadas de tomar notas, de fazer esquemas, de como acompanhar uma aula, a técnica das fichas, de como organizar as notas, de consultar fora dos livros de textos - tudo é examinado com indica­ções de técnicas produtivas.

Depois de indicar o meio mais prático de realizar exames e pro­vas, ensiná-1a, através do "apenas fundamental", a escrever ensaios e me­mórias científicas.

Os três últimos capitulos se ocupam de assuntos complementares, porém bastante requisitados pelo estudante universitário: "o estudo dos idiomas estrangeiros" - "problemas de matemática" - "a forma de ob­ter ajuda e de ser útil" nos trabalhos fora dos livros de texto.



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