Alterações comportamentais na infância: o que está acontecendo?



Educar uma criança não é tarefa fácil. A rapidez com que elas crescem faz com que o cuidador, muitas vezes sinta que está lidando com uma criança diferente daquela que pegava no colo nos anos anteriores. Dentro deste processo de crescimento, identificar quando um comportamento deixa de ser normal e se torna algo patológico só é possível por meio da aproximação com a criança.
Na tentativa de criar parâmetros que facilitem esta identificação, profissionais de saúde e educadores vêm se dedicando cada vez mais à infância, fase em que muitos dos comportamentos acabam sendo o protótipo do perfil de funcionamento na idade adulta. O campo da psiquiatria infantil refina cada vez mais os critérios de diagnósticos de patologias mentais da infância e adolescência podem ser definidos como Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, da Aprendizagem, além dos quadros Depressivos e Psicóticos. Mesmo com essa ampla variação de diagnósticos pesquisados, podemos dizer que, atualmente, a temática mais abordada pelos especialistas é a prevenção.

O leitor neste momento pode estar pensando: Mas em meio a tantos diagnósticos e termos técnicos como poderei identificar quando algo não está indo bem? Como saber o momento de procurar ajuda?

O ponto de partida, seja para leigo ou especialista, é saber quais são os comportamentos característicos da fase de desenvolvimento da criança, ter intimidade com a história de vida dela, seus hábitos, e o que mudou no seu padrão de comportamento que veio a despertar a preocupação dos pais.

Por volta dos dois anos, as crianças iniciam a imitar hábitos dos adultos e o aumento do repertório de vocabulário permite que a criança se expresse com mais eficiência. Em função disso, é a partir desta idade que poderemos compreender melhor os estados emocionais da criança e perceber se algo já não está indo bem.

Nessa idade, alguns comportamentos podem servir de dica como: alterações importantes do sono, dos hábitos alimentares e treino da toalete (controle dos esfíncteres). Uma dica importante para o educador que identifica alterações do sono é investigar qual a distribuição familiar nos cômodos, se a família respeita os horários de sono da criança, se insiste em manter a "mamadeira da madrugada" e se essa mudança foi repentina. Algumas dificuldades no treino do toalete devem-se a inabilidade dos cuidadores no treino ou início tardio da prática. Embora essas alterações possam ser um sinal, até os quatro anos de idade pode haver oscilações no controle dos esfíncteres. A alterações do sono são comuns por volta dos três anos de idade, por isso, a troca de experiência entre paise educadores é importante para que tenham outras referências além dos filhos.

Perto dos três anos inicia a vida escolar. Nessa nova fase a criança conhecerá o mundo fora do lar e longe da mãe. Logo no início já poderemos identificar o grau de dificuldade de separação entre mãe e bebê. Enfatizo que é entre "mãe e bebê", pois muitas vezes o medo da criança é reflexo de uma insegurança dos pais. Nestes casos é interessante que o cuidador visite a instituição e converse com os profissionais até se sentir seguro. Vencido este primeiro obstáculo, a criança inicia sua vida social. Na escola, ela vivenciará disputas por atenção, brinquedos, e deverá tolerar algumas coisas das quais não gosta, bem como adiar a satisfação de algumas vontades. Um sinal de que a criança pode não estar vivenciando bem esta mudança é a regressão a comportamentos de fases anteriores já abandonados, como agressões físicas aos colegas, com tapas e mordidas, e às professoras, como cuspir, chutar e xingar.

Ainda dentro da interação social, é importante que os pais procurem se informar - e aos educadores informar aos pais - se a criança interage bem com os amiguinhos ou mantém-se isolada. Embora seja comum os pais procurarem ajuda quando a criança apresenta comportamentos de birra e agressividade, o isolamento é um dos perfis da infância com maior relação com o desenvolvimento de quadros psicóticos e depressivos na adolescência. Em função disso, cabe aqui apresentar algumas características do padrão de relacionamento entre pares, de acordo com a fase de desenvolvimento.

Mesmo para crianças saudáveis, a relação interpessoal tem suas fases de altos e baixos. Além das características de personalidade, o modo como ela se relaciona também é modulado por características cognitivas da própria idade. Entre três e sete anos, a criança tem dificuldade de levar em conta o ponto de vista do outro, mantendo uma atitude mais egocêntrica, e reconhece o outro como amigo em função da proximidade física, e atributos materiais como, por exemplo, um brinquedo do qual gostou de posse do amiguinho. Ainda nesta faixa, o perfil pode mudar um pouco e a criança iniciar a identificar como amigo aquela criança que costuma fazer aquilo que gosta. Nessa fase, algumas brigas - por disputa de atenção e brinquedo - são comuns, e caberá aos cuidadores ensinarem a partilhar o brinquedo, para que a criança entenda que não ficará sem o objeto ou a pessoa de que gosta. Entre nove e doze anos de idade aumenta a relação de troca, embora a criança ainda priorize as suas próprias vontades. A partir dos doze, às vezes antes, a criança passa a entender que o amigo tem uma vida própria, e a amizade pode ser vista como algo mais constante, embora fique um tempo sem se vê-lo. Nessa fase, a criança demonstra crescente interesse em encontrar o "melhor amigo", demonstra certa possessividade e o sentimento de perda de exclusividade abala a relação. Isso faz com que chegue em casa irritada e chorosa, queixando-se do "ex-melhor amigo", sem que necessariamente algo de grave tenha acontecido.

Dificuldades no processo de aprendizagem também podem ser modulados pelo estado emocional na criança. Nestes casos estreitar o vínculo entre pais e a escola é fundamental, mas deve ser acompanhado de uma avaliação pedagógica individualizada, para que se identifique quais são as áreas de maior dificuldade. Atualmente, existem diversos instrumentos no mercado para avaliação de crianças. Nas escolas, este tipo de material deve ser oferecido como instrumento de trabalho dos professores, priorizando testes ou protocolos padronizados para que se possam realizar o correto acompanhamento da evolução da criança, tanto em termos qualitativos como quantitativos. Avaliações psicológicas, neuropsicológicas e fonoaudiológicas também são muito úteis na compreensão do caso, mesmo que não se trate de uma doença ou transtorno.

Como vimos, a partir dos três anos a criança aumenta exponencialmente o tempo em que passa fora de casa, sob os cuidados de educadores. Portanto, esses profissionais terão informações valiosas para a compreensão de mudanças de comportamento da criança. Identificar quando algo não está indo bem nem sempre é algo simples, mas uma relação saudável entre pais e escola permitirá que as dificuldades sejam venci das e ambos possam aproveitar toda a beleza infância.

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