Trabalho é o elemento organizador da vida social



A concepção que orienta a proposta de conteúdo deste projeto arti­cula-se a partir das noções de trabalho e conhecimento.

Partimos da noção de trabalho porque ele é o elemento organizador da vida social, pois é a única atividade que permite ao ser humano desen­volver uma ação-reflexão sobre a natureza a ponto de transformá-Ia se­gundo suas necessidades. Sendo o trabalho uma atividade coletiva, podemos perceber os seres humanos atuando uns com outros, tecendo assim as re­lações sociais.
Partimos também do conhecimento porque ele é uma dimensão do próprio ato de trabalhar: nos gestos da produção e reprodução da sua existência, os indivíduos organizam e acumulam experiências, desenvolvem uma reflexão (sistematizada ou não), que lhes permitem aperfeiçoar sua vida. O conhecimento também é, portanto, expressão de um determinado modo de organização social.

Elaborar um conteúdo de Sociologia que tenha como referência as noções de trabalho e conhecimento é contribuir diretamente para a cons­trução do direito à cidadania. Como definimos antes, ser cidadão é ter direito ao trabalho: à participação consciente das riquezas sociais que o indivíduo ajuda a construir. O que só é possível plenamente quando o sujeito compreende a organização do trabalho e do conhecimento na so­ciedade contemporânea em que ele vive e atua.

É preciso, portanto, partir das noções de conhecimento e trabalho para compreender a sociedade contemporânea como uma totalidade his­tórica em contradição, isto é, para perceber que esta sociedade se funda­menta em relações sociais ao mesmo tempo complementares e antagônicas, que emergem de um contexto histórico. Assim será possível contrapor-se à visão acrítica, que explica a sociedade como mera soma de diferentes instituições; cujo resultado é um corpo harmônico. Ao contrário, admitimos que a essência da sociedade nem sempre tende ao equilíbrio, mas ao con­flito. Apenas se incorporarmos as noções de trabalho e conhecimento, como elementos teóricos básicos da compreensão do social, é possível compre­ender a dinâmica da sociedade contemporânea.

Admitindo a importância de partir das noções de conhecimento e tra­balho como pilares teóricos da proposta de conteúdo sociológico para os cursos de 2° grau, não é possível ignorar uma dificuldade: iniciar o curso com essa ordem de reflexão em face do grau de complexidade da realidade social brasileira contemporânea. Com essa preocupação em 'vista, propu­semos a primeira unidade como uma introdução pela qual o leitor comece a discutir a importância do trabalho e do conhecimento na evolução do ser humano. Só então, já na segunda unidade, ele passará a estudar a organização e dinâmica da sociedade capitalista. Percorridas essas etapas, ao se iniciar a terceira unidade, provavelmente o leitor esteja em condições de refletir sobre as relações sociais que envolvem o exercício do poder em nossa sociedade. Nesse momento, privilegia-se a compreensão do conceito de participação política do cidadão: a relação entre Sociedade Civil e Estado. Desse modo, na última unidade será possível compreender as institui­ções sociais família e escola, percebendo-as como elementos históricos in­tegrantes da totalidade social.

Vale salientar que o conteúdo aqui proposto é amplo, porém está longe de esgotar as principais preocupações teóricas da ciência sociológica. Tendo consciência de que esta disciplina será ministrada durante um ano e com duas aulas semanais na série inicial do curso de 2° grau, não tivemos a intenção de organizar um conteúdo que levasse o aluno a uma erudição em Sociologia, o que seria mesmo impraticável e indesejável nesta fase. Temos consciência também de que vários aspectos da realidade social foram deixados de lado nesta proposta. Ao priorizarmos certas questões, optamos por um caminho do aprendizado de Sociologia, deixando outros de lado - a ciência não é neutra, enfim. No entanto temos certeza de que, do­minando o conteúdo aqui proposto, o leitor será capaz de superar a própria limitação deste conteúdo. Ao aprender essas noções básicas, movido por interesse próprio, ele será capaz de prosseguir com estudos mais aprofun­dados em Sociologia.

Por fim, ressaltamos que a organização do conteúdo foi feita com a preocupação de, ao contribuir para a construção do direito à cidadania, fornecer a alunos e professores elementos para que sejam capazes de:

a) estabelecer a diferença entre o seu conhecimento de senso comum com o conhecimento científico; em outras palavras, perceber que os fatos isolados do seu cotidiano (prática) podem ser associados, melhor entendidos e reelaborados em decorrência de sua relação com a totalidade social (teoria);

b) desenvolver uma percepção crítica da realidade social que o cerca, ou seja, entender que um mesmo fenômeno social pode ser apre­endido de perspectivas diferentes;

c) incrementar sua noção de participação social; em outras palavras, ao perceber a sociedade como um processo em movimento cons­tante, entenda a sua ação individual como capaz de também influir nos rumos desse movimento.

Acreditamos que esses três objetivos são fundamentais para o exercício consciente da cidadania. Acreditamos ainda que, através desta proposta de conteúdo, seja possível uma contribuição ao desenvolvimento desses objetivos; isto porque nos norteamos por uma concepção que tenta negar as teorias acríticas, baseados nos princípios de estática, linearidade, har­monia. Procuramos fornecer questões teóricas que se. articulem pelos prin­cípios de movimento, contradição, conflito, possibilitando ao leitor esta­belecer a diferença entre o conhecimento de senso comum e o conheci­mento científico, desenvolver sua percepção crítica da realidade e incre­mental' sua participação social.

Temos consciência de que, isolada das preocupações com uma meto­dologia de ensino, esta proposta de conteúdo corre o risco de tornar-se também um conhecimento estático, linear, harmonioso. Por isso, no capítulo seguinte propomos algumas questões básicas para a constituição de um processo no qual o aluno possa assimilar esse conteúdo de modo crítico e dinâmico. Isto terá de ser garantido por uma metodologia de ensino que se articule pelo princípio da problematização e teorização.
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