O suborno do trabalhador do conhecimento



O que seria preciso para impedir que os Estados Unidos se transformem na Inglaterra do século 21? Estou convencido de que é uma mudança radical na mentalidade social, do mesmo modo que a posição de liderança na economia industrial, após o advento da ferrovia, exigiu a mudança drástica de pequeno comerciante para tecnólogo ou engenheiro.
Aquilo que chamamos de Revolução da Informação é, na realidade, uma revolução do conhecimento. A rotinização dos processos não foi possibilitada por máquinas. O computador, na verdade, é apenas o gatilho que a desencadeou. O software é a reorganização do trabalho tradicional, baseado em séculos de experiênda, por meio da aplicação do conhecimento e, especialmente, da análise lógica e sistemática. A chave não é a eletrônica, mas sim a ciência cognitiva. Isso significa que a chave para manter a liderança na economia e na tecnologia que estão prestes a emergir provavelmente será a posição social dos trabalhadores do conhecimento e a aceitação social de seus valores. Se eles continuassem sendo funcionários tradicionais e tratados como tais, isso equivaleria ao tratamento que a Inglaterra deu a seus tecnólogos. E as conseqüências provavelmente seriam semelhantes.

Hoje, porém, estamos tentando ficar em cima do muro: manter a mentalidade tradicional - na qual o recurso-chave é o capital e quem manda é o financista - e, ao mesmo tempo, subornar os trabalhadores do conhecimento, com bônus e opções de compra de ações - para que se contentem em continuar sendo meros empregados. Mas isso vai funcionar, se é que vai, apenas enquanto as indústrias emergentes desfrutarem da explosão no mercado acionário, como vem sendo o caso das empresas ligadas à internet. As próximas indústrias de grande monta provavelmente irão comportar-se muito mais como as tradicionais. Ou seja, crescerão de maneira lenta, dolorosa e à custa de muito esforço.

As primeiras indústrias da Revolução Industrial - têxteis de algodão, siderurgia e ferrovias - eram indústrias explosivas. Elas geraram milionários da noite para o dia, como os banqueiros de investimentos de Balzac ou o dono da fundição de ferro retratado por Dickens, que, em poucos anos, passou de humilde criado a capitão de indústria. As indústrias que surgiram depois de 1830 também geraram milionários. Mas levaram 20 anos para fazê-lo. Foram 20 anos de trabalho duro,lutas, decepções, fracassos e poupança. É provável que a mesma coisa se aplique às indústrias que vão surgir daqui para a frente. Isso já está acontecendo com a biotecnologia.

Está claro, portanto, que subornar os trabalhadores do conhecimento - de quem dependem essas indústrias - simplesmente não vai funcionar. Os trabalhadores-chave do conhecimento certamente vão continuar tendo a expectativa de poder compartilhar financeiramente os frutos de seu trabalho. Mas é provável que esses frutos financeiros levem multo mais tempo para amadurecer, se é que vão amadurecer. Então, provavelmente dentro de uns dez anos, administrar um negócio que tenha como sua primeira (quando não única) meta e justificativa o valor para o acionista (valor de curto prazo) passará a ser contraproducente. Cada vez mais, o desempenho dessas novas indústrias baseadas no conhecimento vai depender de as instituições serem administradas de maneira a atrair, reter e motivar os trabalhadores do conhecimento. Quando satisfazer a cobiça de tais trabalhadores, como hoje estamos tentando fazer, deixar de ser sufidente, será preciso atender seus valores e oferecer-lhes reconhecimento e poder social. Para isso, será preciso transformá-los de subordinados em colegas executivos. De empregados, por mais bem pagos que possam ser, em sócios.
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